Wednesday, October 24, 2007

A história da Clara I

Para desanuviar conto-vos a vida da Clara.

A Clara tem a filha com varicela, há semana e meia, mais precisamente há 10 dias que não sai há rua. A Clara faz compras no continente on-line porque literalmente está de quarentena e não tem o que comer, nem o que dar de comer à sua filha.

Ela remoe-se a pensar porquê que o Jorge parte para a Polska no preciso dia em que a miúda fica doente. Fica verde de inveja por saber que um gajo com pouco mais do que a quarta classe, farta-se de viajar enquanto ela ( pessoa devidamente certificada e educada) virou mãe a tempo inteiro, uma autêntica fadinha do lar. O seu único prazer e também desgosto é saber que ele por muito que viaje continua um tipo pobre de espiríto, embrutecido como sempre o foi.

A Clara conseguiu a proeza de destruir 4 computadores em 3 semanas e todo o seu trabalho que diga-se de passagem é pouco está completamente comprometido, ela não se importa, quer seguir outros caminhos ainda que não saiba quais, por isso agora senta-se sobre o chão frio do soalho e com uma ligação directa a um router manhoso faz apenas o que é indispensável, responde a alguns mails safa algumas situações mais obnóxias, escreve de vez em quando num blogue sem sentido, diz coisas que não quer, mas que sente necessidade de as dizer.

A Clara sente falta do cheiro do Tejo, dos Cacilheiros, da luz demasiado branca de Lisboa, dos amigos e dos sorrisos, das pessoas inteligentes, das ginjas de Santo Antão e dos devaneios no bairro alto, de olhar a outra margem bem de noite no antigo miradouro de Almada, parece que agora é um restaurante de luxo, das calçadas, dos passos, dela.

A Clara está só e triste, mas sobre ela falar-vos-ei ainda mais.

Friday, October 19, 2007

Já não há pressa

E porque não há muito mais a dizer:
A corrida do tempo, a corrida do mar agitado em caminhos desfeitos de água.
Hoje como em tantos outros dias não corro, abrando o passo, desvio-o, meto-me por atalhos (todos que me levam onde não quero ir).
Estou de quarentena, quatro paredes bloqueadas pelos dedos da mágoa.
Quem pensa que me conhece não sabe quem eu sou. Seria capaz de tudo, partir o mundo, gritar dar um tiro na puta da tola porque a loucura está no abismo do costume, mais acima um bom bocado, incontrolada, irascível, possessa, com o sabor amargo de todos que me querem ver cair, inclusivé eu. Cair de braços abertos, cansados, cair sem alternativa, despojada dos sentidos, respirar fundo uma última vez como se respirasse a pouca vida que há em mim.
Sossegar silenciosa e perdidamente, dormitar enroscada em lençois perfumados, eu apenas.
Ainda existo, esta é a minha hora.

Thursday, October 11, 2007

Maus tratos

Fodi a máquina, leia-se portátil.
Ainda lhe faltam 45 horas para recuperar o resto dos ficheiros e não são todos (valha-me o linux), por isso venho aqui de fugida apenas para vos dar um beijo molhado de lágrimas.
Quem me mandou espetar-lhe dois socos em cima? Hum?
Ninguém, eu sei.
Stay focus...
Pois...

Thursday, October 4, 2007

Carta devolvida

São 23:39, um pouco tarde para ti, demasiado tarde para mim. Passei dias e dias a encher chouriços numa base de dados, estás a ver? afinal o meu trabalho não é assim tão "top notch" quanto pensas, nem eu sou a gaja tão futurista que imaginas.

Anda aqui uma puta duma traça do tamanho de um dedo, puta porque deste tamanho só pode ser puta mesma.

Eu, que espero não ser puta ( só de vez em quando) ando com um pano de cozinha a ver se a apanho mas ela luta, luta de tal ordem que acho melhor deixá-la andar, comer-me a pouca roupa desgastada do meu armário ou possivelmente ser comida por um morcego, desses que abundam por aqui assustadores, sabes que eu nunca gostei de bicharada.

Acordei contigo hoje, estavas em cima de mim, abre os olhos, olha para mim, e eu olhava e sorria, tens umas feições bem definidas inequívocas, levantei-me com a disposição de tudo menos de trabalhar, agarrei o telefone mas não te liguei, sou uma gaja de bem sabias?
É verdade, por incrível que pareça, faço os possíveis por o ser, recatada, uma puta (agora sim porque me sinto grande como a puta da traça) de uma puritana.

Tenho saudades dos teus abraços, dos teus olhos, do nosso respeito, da tua pele, de tomarmos banho juntos, das tuas carícias.
Tenho saudades de tudo.

23:50 vou adormecer a pensar em ti.
Estou doce, doce como o mel parece impossível, não achas?

Hoje estou triste...

O amor não me assiste.
Já não tenho 20, nem 25 , tenho 33 anos e uma filha.
Nunca me senti tão bem, uma mulher completa, não papo grupos, e fodo como uma leoa, como as gajas de 30 o sabem fazer.
Não sou um trapo, sou um traço.
E tu, o tempo que perdes com merdas de cáca, não sabes o que perdes, perdes-me a mim aos poucos e poucos.
E eu tão desperta, tão ávida, tão sedenta de amor.
Que desperdício...