Sei que vou morrer cedo, aos quarenta e poucos com sorte. O meu caminho é cada vez mais solitário ainda que não seja novo, sempre foi o que foi, eu de cabelos ao vento, em estradas calcorreadas, batidas, gastas de tanto desalento e só.
Este foi o atalho que escolhi.
Ainda gaiata costumava dizer que desconfiava das pessoas porque mais dia menos dia elas iriam desiludir-me, agora dá-me vontade de rir porque no fundo sou eu, só e apenas, a cabra da desilusão.
Trinta e três anos e passo os dias a sonhar sonhos inatingíveis, esta é a minha vida, sapato raso e roto, sardas, sorriso de orelha a orelha, engano qualquer um, sou cá um prato, pareço uma miúda com as minhas piadas despropositadas, puro engano, não passo de uma dissimulada como manda a lei da sapatilha: assim somos.
Carrego um fardo por demais pesado, escondido.
E tu, continuas a segurar as minhas consequentes quedas, vez após vez, levantas-me com esse ar sombrio, com as poucas palavras que eu sei o que significam, se fosse a ti mandava-me foder.
Não concebo o teu amor porque nunca te pude retribuir, casamos por um capricho como tantos que já tive e não te mereço.
Não passo de um peso morto, um fardo que se carrega e nada fácil de o fazer.
Se me deixasses ficaria feliz por ti, porque eu, eu não passo de um bandalho sem coração, despojada de amor, de afecto, de esperança. Sou fútil, arrasto-me pelos cantos porque não consigo, não quero, não mereço mais.
Tenho saudades das breves felicidades da minha infância ( dessas falar-vos-ei mais tarde) sou uma velha de alma e coração.
Deixem-me já.